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André Rebouças

André Rebouças – Engenheiro, professor, inventor e abolicionista.

André Rebouças foi o primeiro engenheiro negro a se formar no Brasil em 1860. Realizou importantes obras na então capital Rio de Janeiro e por todo país, ganhando grande notoriedade. Foi um dos criadores da Sociedade Brasileira Contra a Escravidão,  junto de Joaquim Nabuco e José do Patrocínio, e ajudou a fundar diversas sociedades anti-escravistas se tornando um dos principais  intelectuais e articuladores políticos na luta pelo fim da escravidão no Brasil.

“É preciso dar terra ao negro. A escravidão é um crime. O latifúndio é uma atrocidade. (…) Não há comunismo na minha nacionalização do solo. É pura e simplesmente democracia rural”

André Rebouças nasceu em 1838 na Bahia. Embora vivendo no século XIX, numa família de afrodescendentes, sua  mãe era filha de comerciantes e seu pai, um homem importante e de grande prestígio na época, o advogado autodidata, deputado e conselheiro de Dom Pedro II, Antônio Pereira Rebouças.

Em fevereiro de 1846, a família transferiu-se para o Rio de Janeiro, onde André frequentou alguns colégios, sempre com um ótimo rendimento escolar, até ingressar na Escola Militar de Aplicação da Praia Vermelha,  atual Faculdade de Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro.  Bacharelou-se em Ciências Físicas e Matemáticas, em abril de 1859, obtendo o grau de engenheiro militar, em dezembro de 1860.

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De fevereiro de 1861 a novembro de 1862, Rebouças e seu irmão Antônio, também engenheiro, estiveram na Europa em viagem de estudos. Na volta ao Brasil, ambos foram trabalhar na vistoria e aperfeiçoamento de portos e fortificações litorâneas.

Atuou como engenheiro militar na Guerra do Paraguai, a partir de maio de 1865, porém devido a problemas de saúde, retorna à capital do Império em julho de 1866. Desse momento em diante, passa a desenvolver projetos com seu irmão Antônio na tentativa de estruturação de companhias privadas com a captação de recursos junto a particulares e a bancos, visando a modernização do país.

O enorme prestígio como engenheiro chega depois que André Rebouças resolveu o problema de abastecimento de água na cidade do Rio de Janeiro na então capital do Império. Além de construir as as Docas da Alfândega, e da Companhia Docas Pedro II.  (Onde assumiu a direção e permaneceu até a sua demissão, em 1871). Ele passou por diversas instituições em cargos de chefia e apesar da influência com a família Imperial encontrou muitos opositores e sofreu racismo por onde esteve. 

Dirigiu, com seu irmão Antônio, obras nas fortalezas de Cananéia, Paranaguá e Santa Cruz. Estudou e projetou as docas do Maranhão, de Cabedelo, do Recife e da Bahia. Foi responsável por diversas obras de engenharia importantes pelo país, como a estrada de ferro que liga Curitiba ao porto de Paranaguá. 

Com isso, tornou-se parte de uma pequena surgente elite negra no Brasil, ao lado de grandes nomes como José do Patrocínio, Joaquim Nabuco, Luiz Gama e dos escritores Machado de Assis e Cruz e Souza, e decidiu utilizar seu êxito profissional e sua popularidade enquanto um cidadão negro para lutar pelo fim da escravidão no Brasil. Rebouças ajudou a criar a Sociedade Brasileira Contra a Escravidão, participou também da Confederação Abolicionista e redigiu o estatuto da Associação Central Emancipadora. Participou da Sociedade Central de Imigração, juntamente com o Visconde de Taunay.

Certamente inúmeros episódios em sua vida, relacionados à cor de sua pele, podem ter contribuído para torná-lo um dos gigantes da luta abolicionista. Um exemplo é sua viagem em 1873, onde vai para Londres e depois para Nova Iorque. Tem dificuldade de conseguir hotel e conclui que é por causa da cor. É impedido também de assistir o espetáculo no Grand Opera House, na cidade norte-americana.  Em outra ocasião, em uma das obras de que participou, outro engenheiro pediu que Rebouças libertasse o escravo Chico, que era operário e tinha sido responsável pelos trabalhos hidráulicos. “Foi quando sua atenção recaiu sobre o assunto”, escreve Angela Alonso, em Flores, Votos e Balas. Chico foi, então, libertado.

Na década de 1880, Rebouças se engajou profundamente na campanha anti-escravidão. Participou de diversas sociedades abolicionistas e acabou se tornando um dos principais articuladores do movimento. Um de seus papéis foi fazer lobby – uma ponte entre os abolicionistas da elite e as instituições políticas, para quem executava obras de engenharia. 

“Sou abolicionista de coração. Não me acusa a consciência ter deixado uma só ocasião de fazer propaganda para a abolição dos escravos, e espero em Deus não morrer sem ter dado ao meu país as mais exuberantes provas da minha dedicação à santa causa da emancipação”, discursou certa vez Rebouças, na presença do imperador. 

 Publicou diversos artigos em jornais contra a escravidão, inserindo sua defesa na conciliação entre as classes e buscando convencer os senhores da maior produtividade do trabalho assalariado e da injustiça para com o negro, nos moldes advogados por Joaquim Nabuco. 

Aliás, tinha grande prestígio pessoal junto a Dom Pedro II. No período compreendido entre a Abolição da Escravatura, 13 de maio de 1888 e a Proclamação da República, o imperador atribuiu-lhe importantes encargos, tendo assim participado amplamente dos acontecimentos políticos do País. Mas o movimento militar de 15 de novembro de 1889 levou André Rebouças a embarcar, juntamente com a família Imperial, com destino a Europa. Por dois anos, ele permaneceu exilado em Lisboa, foi colaborador do jornal Gazeta de Portugal, e também correspondente do jornal de Londres The Times. 

O Imperador elogia os fiéis amigos e menciona o ilustre Engenheiro. A pedido de Pedro II, que reconhecia estar vivendo seus últimos dias de vida, Rebouças viajou para Cannes, na França, para encontrá-lo, ficando na sua companhia. Porém não retorna a Portugal. 

Em 1891, a morte do Imperador o deixou transtornado. Embarca para a África em 1892. Com problemas financeiros, aceita uma oferta de um emprego em Luanda, Angola, e desespera-se com a fome e a miséria do país. Permaneceu lá por 15 meses. Muda-se então para Funchal, na ilha da Madeira (Portugal) onde começa a dar aulas. A partir de meados de 1893, seu abatimento intensificou-se pelo exílio e por um estado de saúde precário. Suicidou-se no dia 9 de maio de 1898, e seu corpo foi resgatado na base de um penhasco de cerca de 60 metros de altura, próximo ao hotel em que vivia.

Sua coragem, seu engajamento e sua dedicação pelo fim da escravidão no Brasil, assim como seu talento e importância como engenheiro, inventor e intectual, são até hoje celebrados em homenagens por todo o Brasil.

(*Embora o nosso texto seja elaborado a partir de referências e fontes explicitadas abaixo, alertamos que poderá conter simplificações a fim de resumir narrativas e adequar ao espaço proposto pelo blog. Att.: Black Blog/Estrela Preta)

 

Fontes

Fundação Joaquim Nabuco, ago 2009. Disponível em < https://bit.ly/39Y5xBp >
Biblioteca Nacional Digital.  Disponível em < http://bndigital.bn.gov.br/andre-reboucas >
Quem foi André Rebouças, abolicionista que batiza a Avenida Rebouças. Portal Geledés, maio 2018. Disponível em < https://bit.ly/2Nivt2P >
Biografias. UOL, 2006. Disponível em <https://educacao.uol.com.br/biografias/andre-reboucas.htm >
eBiografia, 2020. Disponível em < https://www.ebiografia.com/andre_reboucas/ >

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