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Mercedes Baptista

Mercedes Baptista – Bailarina, coreógrafa e carnavalesca. 

Mercedes Ignácia da Silva Krieger, a Mercedes Baptista é considerada a maior precursora do Balé e da Dança Afro no Brasil e foi a primeira negra a integrar o corpo de baile do Theatro Municipal do Rio de Janeiro.

Nasceu no ano de 1921 em Campos dos Goytacazes em uma família humilde. Mercedes mudou-se com a sua mãe para o Rio de Janeiro quando ainda era jovem. Na então capital federal, depois de estudar no Colégio Municipal Homem de Mello, na Tijuca, exerceu diversas profissões, inclusive trabalhando na bilheteria de um cinema. Nessa época, quando podia, assistia aos filmes exibidos e assim cultivava o desejo de tornar-se artista. Com o objetivo de alcançar seu sonho, começou a dedicar-se à dança. Em 1944 começa a frequentar Curso de Danças oferecido pelo Serviço Nacional de Teatro do Rio de Janeiro e recebe as primeiras lições de balé clássico e dança folclórica. Um pouco mais tarde, entrou na Escola de Ballet do Theatro Municipal do Rio de Janeiro.

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Destacando-se na Escola do Teatro, em 1948 Mercedes foi aprovada em concorrido concurso e tornou-se a primeira negra a fazer parte do corpo de baile do Theatro Municipal do Rio de Janeiro. No entanto, o fato de compor o referido grupo não amenizou o forte preconceito em relação a bailarinos negros existente no Brasil. Foram poucos os diretores do grupo que selecionaram Mercedes para compor o elenco dos espetáculos. A bailarina atuou em poucas ocasiões, ainda assim, suas aparições em peças nacionalistas de compositores brasileiros, além de figurações, fizeram-na bailarina reconhecida no Rio de Janeiro. Também na mesma época, a bailarina realizou inúmeras participações e apresentações junto com o grupo do “Teatro Experimental do Negro”, fundado por Abdias do Nascimento. Ao lado de artistas como Ruth de Souza, Haroldo Costa e Santa Rosa, Mercedes militou pelo reconhecimento e pela integração de atores e dançarinos negros no teatro brasileiro. 

No início dos anos 50, Mercedes conseguiu uma bolsa de estudos com Katherine Dunham (a matriarca da dança negra norte-americana) nos Estados Unidos. Dunham havia estado no Brasil para se apresentar com seu grupo e através do Teatro Experimental do Negro conheceu a jovem dançarina. Depois de concorrida audição, Mercedes Baptista foi escolhida para estudar junto com a companhia da bailarina norte-americana durante um ano na Dunham School of Dance, em Nova York. Em 1953, no Brasil, funda o Ballet Folclórico Mercedes Baptista,  decidida a formular uma proposta de dança ligada à cultura afro-brasileira. Neste sentido, a dançarina passou a investigar a dança dos candomblés brasileiros. A bailarina contava também com a ajuda do grande pesquisador e folclorista Edson Carneiro. 

Com seu grupo a dançarina montou inúmeros espetáculos e realizou participações em diversas apresentações de Teatro de Revistas. Ao longo de sua vitoriosa trajetória, o grupo excursionou com sucesso pelo Brasil e países sul-americanos, além de participar de espetáculos do Corpo de Baile do Teatro Municipal.

Mercedes foi reconhecida por seus alunos como uma professora bastante rígida e exigente, ao mesmo tempo, sua bondade e sua generosidade tornava possível aos alunos mais humildes e dedicados realizarem as aulas sem pagar a mensalidade. Estas características da professora Mercedes permitiram ao seu Ballet Folclórico revelar ao público alguns dos maiores bailarinos e bailarinas da dança brasileira.

Durante a década de 1960, Baptista compôs uma pioneira e vitoriosa parceria com os carnavalescos Fernando Pamplona e Arlindo Rodrigues, da Escola de Samba Acadêmicos do Salgueiro. Na estreia da parceria, a crítica foi extremamente positiva e a Escola sagrou-se campeã. Também merece destaque o ano de 1963, quando Mercedes montou e coreografou a Comissão de Frente da Escola por ocasião do festejado e premiado enredo “Chica da Silva”. A parceria gerou polêmica, mas revolucionou o modo como as alas se apresentavam no carnaval carioca. Ainda na década de 60, Mercedes viajou várias vezes à Europa, sendo que em 1965 apresentou-se com seu grupo na França, a convite do governo brasileiro. Em 1967 o grupo original do Ballet Folclórico de Mercedes Baptista foi se desfazendo, enquanto a artista assumia outros compromissos como coreógrafa e professora. Em 1969 ela concebeu e dirigiu o espetáculo “Tropicalíssima”, apresentado em Lisboa, Portugal.

Nos anos setenta, Mercedes Baptista dedicou-se especialmente ao ensino. No Brasil, tornou-se professora da Escola de Dança do Teatro Municipal do Rio de Janeiro, ministrando a disciplina “Dança Afro-Brasileira”. Nos EUA, ministrou cursos no Connecticut College, no Harlem Dance Theater e no Clark Center de Nova York. Ao mesmo tempo, seu sucesso como coreógrafa a tornava cada vez mais requisitada para o cinema e a televisão.  Em 1980 o Ballet Folclórico Mercedes Baptista foi retomado e um novo grupo se formou. Com grande sucesso, foram apresentados vários espetáculos. Em 1982 a bailarina e professora se aposentou pelo Theatro Municipal. 

A partir dos anos noventa, a artista passou a ser homenageada em cerimônias públicas e por diversas Escolas de Samba, que reconheceram sua inestimável contribuição para a dança e o carnaval carioca. Em 2000, recebeu uma homenagem na Câmara Municipal do Rio de Janeiro, em reconhecimento a sua inestimável contribuição à dança brasileira, além de ter sido homenageada em uma grande exposição sobre a sua carreira e em um vídeo-documentário “Balé Pé no Chão – A Dança Afro de Mercedes Baptista”, lançado em 2006.

Mercedes Baptista faleceu no Rio de Janeiro, em 2014, aos 93 anos de idade.

(*Embora o nosso texto seja elaborado a partir de referências e fontes explicitadas abaixo, alertamos que poderá conter simplificações a fim de resumir narrativas e adequar ao espaço proposto pelo blog. Att.: Black Blog/Estrela Preta)

 

Fontes

Mercedes Baptista. Museu Afro Brasil. Disponível em <https://bit.ly/2MoxuKj>                                                                           
Mercedes Baptista. Enciclopédia Itaú Cultural. Disponível em <https://bit.ly/2M9Mxrr>                                                                                                                                         
Mercedes Baptista.  Fundação Palmares. Disponível em <http://www.palmares.gov.br/?page_id=33210 >                                                                                           

 Documentário

Balé Pé no Chão – A Dança Afro de Mercedes Baptista de Lílian Solá e Marianna Monteiro, 2006. Disponível em <https://www.youtube.com/watch?v=x9CMU4aayjU  >


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