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Machado de Assis

Machado de Assis – Jornalista, contista, cronista, romancista, poeta e teatrólogo.

O carioca Joaquim Maria Machado de Assis, nasceu em 1839 em uma família humilde, no Morro do Livramento. Seu pai era Francisco José de Assis, “pardo forro” pintor de paredes e dourador, filho de escravizados alforriados. Já sua mãe, Maria Leopoldina Machado da Câmara tinha origem portuguesa e trabalhou como lavadeira. O menino Machado Assis terá infância pobre e difícil, porque a mãe morrerá de tuberculose quando ele tiver 9 anos, e também sofrerá crises de epilepsia. Sem meios para cursos regulares, era autodidata e estudou como pôde. Em 1854 com apenas 14 anos, publicou o primeiro trabalho literário e nunca mais parou de escrever.  À luz de velas, Machado lia tudo que passava em suas mãos e já escrevia suas primeiras poesias. Em busca de um emprego no Rio, com 15 anos, conheceu um empresário dono da livraria, do jornal e da tipografia. Em 1856, Machadinho, como era conhecido, entrou para a Imprensa Oficial como aprendiz de tipógrafo. O diretor decidiu incentivar o jovem e o apresentou a importantes jornalistas. Com 20 anos, Machado de Assis já frequentava os círculos literários e jornalísticos do Rio de Janeiro, capital política e artística do Império.

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Sua genialidade começa a ser reconhecida e recebe convites para escrever em grandes jornais seus artigos, crônicas e críticas. Em sua longa trajetória como escritor publicou livros que são considerados clássicos da nossa literatura e o sucesso como autor e jornalista o fez membro da elite da época. Observador agudo da realidade de seu tempo e país, escreveu romances que se tornaram referência como “Memórias póstumas de Brás Cubas” e “Dom Casmurro”. Até hoje celebrado como o principal nome da literatura brasileira e um dos maiores escritores da língua portuguesa. É o fundador da Academia Brasileira de Letras e ocupou por mais de dez anos a presidência, que passou a ser chamada também de Casa de Machado de Assis. Apesar de toda popularidade, a carreira burocrática foi, até o fim de sua vida, seu meio principal de sobrevivência. Foi somente como servidor público que conseguiu sua estabilidade financeira.

As ideologias racistas do período que Machado viveu não puderam admitir que o maior autor do Brasil, e um dos maiores do mundo em todos os tempos, seja, em verdade, de origem africana. Por muitos anos foi retratado como um homem branco em livros, fotos retocadas e pinturas. Somente no final da década de 2010, foi reconhecido finalmente como homem preto. Podemos observar na matéria da revista Hypeness – Faculdade cria ação para retratar Machado de Assis como ele era: um intelectual negro –  onde mostra o projeto “Machado de Assis Real”, da Faculdade Zumbi dos Palmares, em São Paulo. Segue a reportagem – Assim nasceu o projeto como uma “errata histórica feita para impedir que o racismo na literatura seja perpetuado”. A ação ofereceu uma foto colorida em alta resolução para download, a fim de que possamos substituir a imagem criada, do Machado “branco”, em livros e retratos oficiais.  No artigo “A questão negra em Machado de Assis”, do Portal Geledés, podemos analisar essa questão. “Autores fundamentais da literatura brasileira, como Lima Barreto e Cruz e Souza, por vezes são ignorados nos currículos de literatura e ciências humanas, e quando tratados, como no caso de Machado de Assis, escolhe-se ignorar que sua posição enquanto negro e retirar esse importante fato sociológico da análise de suas obras”.

A invisibilidade da negritude de Machado de Assis é um reflexo da maneira como a sociedade brasileira tem historicamente apagado e silenciado a presença e a contribuição dos negros para a cultura e a história do país. É importante reconhecer a identidade e a história de Machado de Assis como um escritor negro e crítico da escravidão e do racismo. 

O professor da UFMG e escritor, Eduardo de Assis Duarte,  autor do livro “Machado de Assis Afrodescendente”, aponta em sua grandiosa pesquisa, quando começa de fato essa narrativa em torno de suas origens.  “Apesar da vitalidade de sua obra para escancarar a escravidão e o racismo e das feições afrodescendentes delineadas por sua máscara mortuária, em seu atestado de óbito vai constar que ele era branco. Assim, começa a construção de uma farsa. Branco, elitista, um “europeu heleno”. E mais ainda: na visão de seus críticos, indiferente à escravidão em sua vida e em sua obra. Durante um século, esse será o perfil de Machado de Assis imposto por uma elite branca à cultura brasileira. Afinal, como o maior escritor brasileiro poderia ser afrodescendente num país com racismo estrutural?” Indaga o autor Assis Duarte em sua entrevista para o jornal Estado de Minas, ao jornalista Paulo Nogueira, na coluna Pensar. “Tais lugares-comuns, somados à ausência de um herói negro em seus romances, fundamentam em grande medida a tese do propalado absenteísmo machadiano quanto à escravidão e às relações interétnicas existentes no Brasil do século 19”, avalia o autor.

Ao longo do século 20, foram cometidos muitos equívocos sobre a descendência e a obra de Machado, lembra o professor, principalmente devido ao estilo dissimulado em tratar temas como a escravidão em sua obra. “De fato, nada mais adverso à escrita de autor-caramujo, especialista em disfarces de toda ordem, do que o projeto de uma literatura missionária e panfletária”, ressalta. Afrodescendente em pleno período escravista, escrevendo em jornais lidos pela elite, trabalhando em empregos públicos e vivendo de aluguel, era natural que Machado não tivesse uma atuação militante e panfletária, ressalta Assis Duarte. Caso contrário, certamente, seria perseguido. A opção, então, veio na fina ironia e na dissimulação como “autor-caramujo” em suas obras para denunciar a escravidão.

“O tom do discurso machadiano é corrosivo. Engendra contranarrativa ao pensamento hegemônico da época – cuja ideia mestra entronizava o ‘escravismo benigno’ praticado nos trópicos pelo colonizador à miscigenação. Tal ideologia se aprimora ao longo do século 20 e prima por construir uma leitura do nosso passado histórico em que o tempo do cativeiro surge emoldurado pelo mito da democracia racial – a substituir a brutalidade pela tolerância e o rebaixamento do outro pela mestiçagem”, aponta Assis Duarte.

Outro exemplo da postura contrária de Machado ao sistema então vigente é o racismo brutal apresentado no conto Pai contra mãe, que mostra como um capitão do mato (caçador de escravos foragidos), obrigado a entregar o filho recém-nascido para adoção por não ter como sustentá-lo, captura uma escrava fugitiva e fica indiferente quando ela aborta na sua frente. Sua reação é: “Nem todas as crianças vingam”. Se isso não for denúncia contra a escravidão, o que será? Essa era a forma de Machado, sem ser militante, denunciar as atrocidades escravistas do seu tempo. 

 Machado de Assis teve uma carreira literária ininterrupta, produziu de 1855 a 1908. Abrange quase todos os gêneros literários. Escreveu poesias, romances, contos, crônicas, críticas e peças de teatro.

Ele faleceu no Rio de Janeiro em 1908. Em seu velório, compareceram as maiores personalidades do país. Levado em uma carreta do Arsenal de Guerra, só destinada às grandes personalidades, um grande cortejo fúnebre saiu da Academia para o cemitério de São João Batista, onde foi sepultado.

(*Embora o nosso texto seja elaborado a partir de referências e fontes explicitadas abaixo, alertamos que poderá conter simplificações a fim de resumir narrativas e adequar ao espaço proposto pelo blog. Att.: Black Blog/Estrela Preta)

 

Fontes

Academia Brasileira de Letras. Disponível em < https://bit.ly/2Mc70LO >
Machado de Assis. Vida e Obra. MEC. Disponível em < http://machado.mec.gov.br/# >
Nascia, há 177 anos, o maior escritor brasileiro: Machado de Assis. Fundação Palmares. Disponível em < http://www.palmares.gov.br/?p=42205 >
A questão negra em Machado de Assis . Portal Geledés, nov  2014.  Disponível em < https://www.geledes.org.br/questao-negra-em-machado-de-assis/ >                                                                  
E-Biografia. Disponível em < https://www.ebiografia.com/machado_assis/ >
Conheça o verdadeiro Machado de Assis: negro e crítico da escravidão. Estado de Minas. Disponível em < https://www.em.com.br/app/noticia/pensar/2020/06/26/interna_pensar,1159969/conheca-o-verdadeiro-machado-de-assis-negro-e-critico-da-escravidao.shtml >
Faculdade cria ação para retratar Machado de Assis como ele era: um intelectual negro. Hypeness 2019. Disponível em < https://bit.ly/3sIDTRq >

 

 

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