A ideologia daqueles que detém o capital e os meios de produção na África do Sul, não difere da ideologia dos seus parceiros e aliados brasileiros, escondidos sob o manto do anonimato.

Lá como aqui, a exploração marca o dia-a-dia do povo negro, já são muitas as semelhanças entre o Apartheid e o Racismo brasileiro: bairros periféricos, violência policial, exploração econômica, discriminação da mulher, marginalização da criança, escolaridade diferenciada para negros, subnutrição, o não direito ao uso da terra, tais são os fatos comuns que acarretam a espoliação da cidadania de negros sul-africanos e brasileiros.

Hoje no Brasil, os capitais multinacionais estão associados na exploração das riquezas de nosso subsolo e na quebra da soberania nacional. A Anglo American Corporation of South Africa controla grande parte das nossas riquezas minerais, ela detém 83% da produção de ouro mecanizado, 54,3% da produção de níquel, 44,6% da produção de nióbio e 15% das rochas fosfáticas. Juntamente com a Union Carbide controlarão toda a extração de tungstênio brasileiro, uma das maiores reservas mundiais.
Os negros brasileiros estão nas ruas, nas entidades e em todos os espaços da nossa sociedade, lutando contra o racismo e denunciando o Apartheid na África do Sul; exigindo do governo brasileiro o rompimento de relações comerciais e diplomáticas com o governo racista de Peter Botha. Lutamos, igualmente, pela proibição dos pousos de aviões comerciais da África do Sul em nosso território e aviões brasileiros em território Sul-Africano; pelo congelamento dos bens sul-africanos no Brasil, demonstrando afirmativamente a posição de 2º maior país de população negra do mundo, face aos interesses do governo racista da África do Sul.

Os interesses eurocêntricos da sociedade brasileira, mais uma vez atuaram no sentido de afastar o Arcebispo Desmond Tutu de problemas relativos à real situação do negro brasileiro, bem como, de nossa solidariedade, enquanto negros, à luta dos irmãos sul-africanos.

Nem a falta de coragem, nem a falta de respeito das autoridades governamentais, com a população afro-brasileira, nos afastará desta luta. NÃO NOS ENGANEMOS!

Ao mesmo que trazem o Arcebispo Tutu, nos negam a cidadania plena e o exercício da nossa dignidade. Nós negros brasileiros queremos determinação e coragem, basta de palavras!

Os negros da África do Sul não estão sozinhos nesta luta!
Enquanto houver um só negro, vivendo sob as leis do Apartheid, nenhum negro pode ser considerar livre no Brasil ou qualquer outro país da diáspora negra.

Nós, negros brasileiros, sabemos que os racistas sul-africanos vão matar muitos negros, mas não podem matar todos; sabemos, também, que estes racistas foram capazes de nos tirar de dentro da África, mas não são capazes de tirar a África de dentro de nós.