Luiz Gama – Advogado, jornalista, escritor, poeta, orador e o Patrono da Abolição da Escravidão do Brasil.
Luiz Gama foi um dos maiores líderes abolicionistas do Brasil. Com uma história de vida impressionante, repleta de muita luta e enorme sede por justiça. Sempre esteve engajado nos movimentos contra a escravidão e a favor da liberdade dos negros. Conseguiu heroicamente libertar mais de 500 escravizados usando de sua oratória impecável e seus conhecimentos jurídicos, ganhando notoriedade. Em 2018 seu nome entrou para o Livro dos Heróis da Pátria.
“Eu advogo de graça por dedicação sincera à causa dos desgraçados. Não pretendo lucros. Não temo represálias”
Luiz Gonzaga Pinto da Gama nasceu em 21 de junho de 1830, na cidade de Salvador (BA). Era filho de pai branco de origem portuguesa e da mítica Luiza Mahin, negra livre e liderança que participou de insurreições de escravizados. Em 1840 com apenas 10 anos foi ilegalmente vendido como escravo pelo pai para pagar dívidas de jogo. Transportado para o Rio de Janeiro, foi comprado pelo alferes Antônio Pereira Cardoso e passou por diversas cidades do interior de São Paulo. Gama foi alfabetizado somente aos 17 anos por um estudante que se hospedou na fazenda onde morava e trabalhava.
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Aos dezoito anos fugiu para a capital paulista. Conquistou judicialmente a própria liberdade. Mais tarde tentou frequentar o Curso de Direito do Largo de São Francisco – hoje denominada Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo. Por ser negro, enfrentou a hostilidade de professores e alunos, mas persistiu como ouvinte das aulas. Era um assíduo frequentador da biblioteca e, assim, aprofundava sozinho cada vez mais seus estudos. Não concluiu o curso, mas o conhecimento adquirido permitiu que atuasse na defesa jurídica de negros escravizados.
Luta que travou nos Tribunais usando de sua oratória impecável e seus conhecimentos jurídicos, conseguiu libertar mais de 500 escravos, algumas estimativas falam em 1000 escravos até o fim de sua vida. Assim o tornando em uma lenda e popularmente conhecido como o advogado dos pobres e libertador dos negros.
Existe controvérsias entre os pesquisadores sobre a autoria de frases de forte impacto como: “Ao matar seu senhor, o escravo agia em legítima defesa”. Ou “Perante o Direito, é justificável o crime do escravo perpetrado na pessoa do Senhor”.
Escravizados de São Paulo e de outras províncias recorriam ao advogado, que corajosamente discursava e trabalhava em sua causa.
Em carta a Lúcio de Mendonça, o abolicionista fez o balanço de seu abnegado serviço: [no foro e na tribuna ganho] o pão para mim e para os meus, que são todos os pobres, todos os infelizes; e para os míseros escravos, que em número superior a 500 tenho arrancado às garras do crime.
“Foi o maior advogado da história do Brasil, por conta de sua trajetória, de seu brilhantismo. Era um sujeito que demonstrava capacidade e manejo da tecnicalidade do Direito que são impressionantes até hoje”, elogia o jurista Silvio Luiz de Almeida, presidente do Instituto Luiz Gama e professor de Direito da Universidade Presbiteriana Mackenzie, para o jornal DW Brasil. Outro jurista de renome, o ex-ministro da Justiça Miguel Reale Júnior define o ex-escravo como “o negro mais importante do século 19”. Ele afirma que suas petições podem ser lidas, hoje, “para auferir ânimo na luta contra todas as injustiças que ainda nos assolam”.
Nos últimos anos, felizmente o abolicionista vem sendo cultuado como figura-chave no movimento abolicionista brasileiro, mas a pesquisadora Ligia Fonseca Ferreira foi além. Ela debruçou-se sobre a vida e obra de Gama para sua tese de doutorado, na Universidade Sorbonne Nouvelle — Paris III. Publicou a antologia “Com a Palavra, Luiz Gama: Poemas, Artigos, Cartas, Máximas” — pela Imprensa Oficial, em 2011. Em entrevista para a BBC News Brasil a pesquisadora e professora de Letras da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), atentou para os talentos literários e jornalísticos de Luiz Gama. “Ele é dono de uma escrita bastante complexa, poderosa, literária. Naquele momento, a imagem precisava ser construída com a palavra e ele era o homem da imagem. Escrevia assumindo o foco narrativo, como se tivesse uma câmera”, afirma.
Na década de 1860, Gama, destacou-se como jornalista e colaborador de diversos periódicos progressistas tanto de São Paulo, onde morava, quanto do Rio, a capital federal de então. Projetou-se na literatura em função de seus poemas, nos quais satirizava a aristocracia e os poderosos de seu tempo. Apenas 12 anos depois de ter aprendido a ler, publicou em 1859, seu único livro, Primeiras Trovas Burlescas. Hoje, é reconhecido como um dos grandes representantes da segunda geração do romantismo brasileiro, mas na época enfrentou a oposição dos acadêmicos conservadores.
Em 1869, fundou com o abolicionista Rui Barbosa o Jornal Radical Paulistano. Em 1880 foi líder da Mocidade Abolicionista e Republicana. Devido a sua luta a favor da libertação dos escravos era hostilizado pelo Partido Conservador e chegou a ser demitido do cargo de amanuense por motivos políticos.
Para o jornalista e escritor Tom Farias, especialista no período, Gama conseguiu, com “seu poder de transmitir credibilidade ao movimento”, ser decisivo para a abolição da escravatura no Brasil. “Gama deu ao movimento social negro pela liberdade um sentido de que os negros, mesmo escravizados, podiam ser agentes e protagonistas de sua liberdade.”
Em 1882, aos 52 anos, faleceu em São Paulo e foi sepultado no Cemitério da Consolação. Uma imensa multidão participou do seu cortejo fúnebre e estima-se a presença de mais de 3.000 pessoas numa São Paulo de 40.000 habitantes. Segundo o historiador e escritor Paulo Rezzutti. “Diversos estratos sociais foram honrar sua memória. Membros da alta sociedade paulista e ex-escravizados libertos por ele revezaram-se nas alças do caixão.”
Gama faleceu sem ver a concretização do fim da abolição, que só viria seis anos depois, e da consolidação da República, em 1889.
Somente mais de 130 anos após sua morte, Luiz Gonzaga Pinto da Gama se tornava oficialmente advogado, e a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) o reconhecia como membro da instituição. Honrando sua contribuição histórica para a advocacia no país.
Em janeiro de 2018, seu nome entrou para o Livro dos Heróis da Pátria, memorial cívico em homenagem às pessoas que, de algum modo, agiram pelo engrandecimento da nação brasileira.
Um dos trechos do texto Emancipação, publicado pela Gazeta do Povo em 1º de dezembro de 1880. “Em nós, até a cor é um defeito, um vício imperdoável de origem, o estigma de um crime; e vão ao ponto de esquecer que esta cor é a origem da riqueza de milhares de salteadores, que nos insultam ; que esta cor convencional da escravidão, (…) à semelhança da terra, [a]través da escura superfície, encerra vulcões, onde arde o fogo sagrado da liberdade. Vim [lembrar ao] ofensor do cidadão José do Patrocínio por que nós, os abolicionistas, animados de uma só crença, dirigidos por uma só ideia, formamos uma só família, visando um sacrifício único, cumprimos um só dever.”
(*Embora o nosso texto seja elaborado a partir de referências e fontes explicitadas abaixo, alertamos que poderá conter simplificações a fim de resumir narrativas e adequar ao espaço proposto pelo blog. Att.: Black Blog/Estrela Preta)
Fontes
Instituto Luiz Gama. Disponível em < http://www.institutoluizgama.org.br >
Dia da Consciência Negra: quem foi Luiz Gama, figura-chave no movimento abolicionista brasileiro. BBC Brasil, nov 2020. Disponível em < https://www.bbc.com/portuguese/geral-54959907 >
Luiz Gama, o ex-escravo que ajudou a libertar outras centenas. DW Brasil, nov 2019. Disponível em < https://www.dw.com/pt-br/luiz-gama-o-ex-escravo-que-ajudou-a-libertar-outras-centenas/a-51291687 >
Obra de Luiz Gama revela a luta por um Brasil sem reis ou escravos. Brasil de Fato, maio 2018. Disponível em <https://www.brasildefato.com.br/2018/05/17/obra-de-luiz-gama-revela-a-luta-do-abolicionista-por-uma-terra-sem-rei-e-sem-escravo/ >
Vídeo: Tempo e História traz a história de Luís Gama ( Youtube 2016). Disponível em < https://www.youtube.com/watch?v=oWMIsr2Tckk >