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Panteras Negras

Panteras Negras

Os Panteras Negras foram um partido político norte-americano e organização urbana socialista revolucionária fundada por Bobby Seale e Huey Newton em outubro de 1966. Esse partido originou-se, a princípio, como um grupo voltado ao combate contra a violência policial contra os negros durante a década de 1960, no contexto do movimento dos direitos civis nos Estados Unidos.
O partido atuou nos Estados Unidos de 1966 a 1982, com filiais internacionais que operaram no Reino Unido no início da década de 1970 e na Argélia de 1969 a 1972.
Os Panteras Negras assumiram uma ideologia revolucionária que advogava pela autodefesa armada dos negros contra a violência do Estado contra essa comunidade. Eles possuíam um projeto de autogestão social, isto é, a comunidade afro-americana deveria autogovernar-se, e defendiam a realização de projetos sociais para atender os mais pobres.
Os Panteras Negras sofreram consideravelmente com a repressão do governo dos Estados Unidos. O FBI realizou inúmeras ações para enfraquecer o grupo, que acabou desaparecendo na década de 1980. Um dos símbolos da luta dos Panteras Negras era o punho erguido para o alto.

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Movimento dos Direitos Civis

Até a década de 1960, os Estados Unidos eram marcados por intensa discriminação racial. Era comum, até esse período, que os negros fossem proibidos de frequentar determinados locais, como alguns restaurantes e lojas. Existiam lugares que separavam banheiros de brancos e negros, e até mesmo bebedouros eram separados dessa forma.
O preconceito nos Estados Unidos era uma “herança” dos períodos da escravidão naquele país. Desde o fim dela, com a Guerra de Secessão, a separação entre negros e brancos na sociedade era evidente. Muitos negros tinham seu direito de votar restrito, a pobreza que eram obrigados a viver era enorme, assim como a violência que sofriam, principalmente pela polícia.
Tudo isso levou ao movimento dos direitos civis, iniciado na década de 1950, quando Rosa Parks negou-se a ceder seu lugar no ônibus para um branco. A partir daí, uma série de protestos das pessoas negras espalhou-se pelos Estados Unidos e grandes lideranças surgiram para exigir o fim da segregação que existia no país.
Martin Luther King Jr. foi um desses nomes. Ele era um pastor batista que morava na Geórgia, sul dos Estados Unidos, e defendia que a luta dos negros deveria dar-se pela desobediência civil e por protestos pacíficos. Existiam também aqueles que defendiam a autodefesa armada por parte dos negros, como foi o caso da Nação do Islã, um grupo que defendia o separatismo dos negros norte-americanos. Nesse cenário de efervescência social é que surgiram os Panteras Negras.

Como surgiram os Panteras Negras?

Os Panteras Negras foram fundados, em 1966, por dois universitários negros chamados Huey Newton e Bobby Seale. Ambos moravam em Oakland, na Califórnia, e criaram esse grupo como forma de combater a violência policial. Isso porque, com o contexto de protestos, esse tipo de violência intensificou-se, uma vez que muitos brancos, movidos pelo racismo, reagiam com violência contra os protestos.
Assim, esses dois estudantes resolveram criar uma organização para acompanhar as operações policiais e impedir que violência contra afro-americanos fosse realizada. O grande diferencial é que os Panteras Negras pretendiam acompanhar essas operações munidos de armamento. Eles justificavam isso por meio da 2ª Emenda da Constituição dos Estados Unidos, que dava direito aos cidadãos de portar armas.
Os Panteras Negras, nos seus primeiros anos de atuação, agiam de forma intimidatória contra pessoas que fossem racistas. No entanto, aos poucos, o grupo desenvolveu-se e aderiu novas pautas, até que se tornou um partido.

Ideologia dos Panteras Negras

Desde a sua fundação, os Panteras Negras possuíam um programa, conhecido como Programa de Dez Pontos, que delineava o que eles queriam e no que acreditavam. Voltado, a princípio, para o combate à violência policial, o grupo desenvolveu-se e recebeu novas influências ideológicas. As principais influências dos Panteras Negras eram Frantz Fanon e Karl Marx.
Com o tempo, o grupo engajou-se pela realização de ações sociais e acabou assumindo uma plataforma abertamente marxista, sendo, portanto, crítico ao capitalismo. Os Panteras Negras também defendiam o estabelecimento de uma sociedade autogestionária, na qual os pobres (sobretudo os negros) governariam a si mesmos.
O Programa de Dez Pontos dos Panteras Negras acabou sendo publicamente divulgado em 1967, e nele constavam as seguintes exigências:

O QUE QUEREMOS AGORA! EM QUE ACREDITAMOS?

Para aquelas pobres almas que não conhecem a história dos negros, as crenças e os desejos do Partido Pantera Negra para Auto-defesa podem parecer absurdos. Para o povo negro, os dez pontos são absolutamente essenciais para a sua sobrevivência. Temos ouvido a frase revoltante “essas coisas levam tempo” por 400 anos. O Partido Pantera Negra sabe o que o povo negro quer e precisa. A unidade negra e a auto-defesa tornarão essas demandas uma realidade.

O QUE QUEREMOS:
1 – Nós queremos liberdade. Queremos poder para determinar o destino de nossa comunidade negra.
2 – Queremos desemprego zero para nosso povo.
3 – Queremos o fim da ladroagem dos capitalistas brancos contra a comunidade negra.
4 – Queremos casas decentes para abrigar seres humanos.
5 – Queremos educação para nosso povo! Uma educação que exponha a verdadeira natureza da decadência da sociedade americana. Queremos que seja ensinada a nossa verdadeira história e nosso papel na sociedade atual.
6 – Queremos que todos os homens negros sejam isentos do serviço militar.
7 – Queremos um fim imediato da brutalidade policial e dos assassinatos de pessoas negras.
8 – Queremos liberdade para todos os negros que estejam em prisões e cadeias federais, estaduais, distritais ou municipais.
9 – Queremos que todas as pessoas negras levadas a julgamento sejam julgadas por seus pares ou por pessoas das suas comunidades negras, tal como definido pela Constituição dos Estados Unidos.
10 – Queremos terra, pão, moradia, educação, roupas, justiça e paz.

EM QUE ACREDITAMOS:
1 – Acreditamos que nós, o povo negro, não seremos livres enquanto não formos capazes de determinar nosso destino.
2 – Acreditamos que o governo federal é responsável e obrigado a dar a todos os homens e mulheres emprego e garantir alguma forma de salário. Acreditamos que se os homens de negócio, brancos e americanos, não quiserem dar emprego a todos, então os meios de produção devem ser tomados deles e colocados à disposição da comunidade para que as pessoas possam se organizar e empregar toda a gente, garantindo um nível de vida de qualidade.
3 – Acreditamos que esse governo racista nos roubou, e agora exigimos um pagamento de sua dívida de 40 hectares e duas mulas. Esse pagamento foi prometido há 100 anos como restituição por todo o trabalho escravo e os assassinatos em massa do povo negro. Nós iremos aceitar o pagamento em moeda corrente e ele será distribuído por todas as nossas comunidades. Os alemães estão agora ajudando os judeus em Israel pelo genocídio que realizaram contra aquele povo. Os alemães mataram 6 milhões de judeus. Os americanos racistas foram parte do assassinato de mais de 50 milhões de pessoas negras; portanto, sentimos que essa é uma demanda bem modesta que estamos fazendo.
4 – Acreditamos que, se os donos de terras brancos não derem moradias decentes para a comunidade negra, então as terras e as casas devem ser conseguidas através de cooperativas de modo que nossa comunidade, com a ajuda do governo, possa construir casas decentes para seu povo.
5 – Acreditamos em um sistema educacional que dê ao nosso povo o conhecimento de si próprio. Se uma pessoa não tem conhecimento de si mesma e de sua posição na sociedade e no mundo, essa pessoa terá pouca chance de se relacionar com qualquer outra coisa.
6 – Acreditamos que o povo negro não pode ser forçado a lutar no serviço militar para defender um governo racista que não nos protege. Nós não vamos lutar nem matar outras pessoas de cor no mundo que, como o povo negro, estão sendo vitimizadas pelo governo americano branco e racista. Nós vamos nos proteger da força e da violência dessa polícia racista e desse exército racista, usando todos os meios necessários.
7 – Acreditamos que podemos acabar com a brutalidade policial em nossa comunidade negra organizando grupos negros de auto-defesa dedicados a defender nossa comunidade negra da opressão e brutalidade da polícia racista. A Segunda Emenda à Constituição dos Estados Unidos nos dá o direito de portar armas. Portanto, nós acreditamos que todo o povo negro deva se armar para auto-defesa.’
8 – Acreditamos que todos os negros devam ser libertados das várias prisões e cadeias, porque não tiveram julgamento justo e imparcial.
9 – Acreditamos que os tribunais devam seguir a Constituição dos Estados Unidos para que o povo negro receba julgamentos justos. A 14ª Emenda à Constituição dos Estados Unidos dá a toda pessoa o direito de ser julgada por seus pares. Um par é uma pessoa de origem econômica, social, religiosa, geográfica, ambiental, histórica e racial similar. Para dar cumprimento a isso, o tribunal teria que compor um júri com elementos da comunidade negra, quando o réu fosse negro. Nós temos sido e estamos sendo julgados por júris totalmente compostos por brancos, que não têm nenhuma compreensão do que seja o “pensamento médio” da comunidade negra.
10 – Quando, no curso dos acontecimentos humanos, torna-se necessário a um povo dissolver os laços políticos que o ligavam a outro e assumir, entre os poderes da Terra, uma posição separada e igual àquela que as leis da natureza e de Deus lhe atribuíram, o digno respeito às opiniões dos homens exige que se declarem as causas que o impelem a essa separação. Acreditamos que essas verdades sejam evidentes, que todos os homens são criados de maneira igual, que eles foram dotados por seu Criador de certos direitos inalienáveis, dentre os quais estão a vida, a liberdade e a busca por felicidade. Que, para assegurar esses direitos, governos são instituídos entre os homens, derivando seus justos poderes do consentimento dos governados – que, quando qualquer forma de governo se torna destrutiva desses fins, é direito do povo alterá-la ou aboli-la e instituir novo governo, baseando-o em tais princípios e organizando os seus poderes da forma que ao povo pareça mais conveniente para sua segurança e felicidade. A prudência, de fato, recomenda que os governos instituídos há muito tempo não sejam alterados por motivos fúteis e temporários; e, segundo a experiência tem demonstrado, as pessoas preferem sofrer, enquanto os males são suportáveis, a corrigir a injustiça, abolindo as formas às quais estão acostumados. Mas, quando uma longa série de abusos e usurpações, voltadas invariavelmente ao mesmo objetivo, indica o desígnio de submeter as pessoas ao despotismo absoluto, é um direito delas, um dever delas, abolir tal governo e instituir novos guardiães para a sua segurança futura.

A autodeterminação dos negros, o acesso a itens básicos de sobrevivência e o fim da violência contra eles eram as grandes exigências dos Panteras Negras.

Formas de ação dos Panteras Negras

Entre 1966 e 1968, os Panteras Negras deixaram de ser um grupo de atuação regional e ganharam projeção nacional. Dois momentos marcantes para eles aconteceram em 1967: o primeiro, quando houve a invasão da Câmara Municipal, por 30 membros do partido, no momento em que o Estado da Califórnia debatia a proibição do porte de armas; e o segundo, quando Huey Newton foi preso por assassinar um policial.
Como mencionado, o grupo atuava inicialmente como uma patrulha que vigiava os bairros pobres de Oakland para evitar a violência policial. Com a projeção nacional, foram sendo fundadas células dos Panteras Negras em diferentes partes dos Estados Unidos, fazendo com que a ideologia deles fosse espalhada.
À medida que os Panteras Negras ganhavam influência, as condições de implementar obras sociais ampliaram-se. Assim, eles implantaram escolas e hospitais comunitários que prestavam serviços gratuitos para pessoas pobres, sobretudo, negros e latinos. Eles também realizavam a distribuição de alimentos e faziam o transporte das crianças para a escola. Nessas escolas eles ensinavam a história dos Estados Unidos dentro da perspectiva própria do partido.
No seu auge (final da década de 1960), os Panteras Negras contavam com até cinco mil membros e tinham mais de 30 comitês em diferentes cidades dos Estados Unidos|2|. Eles também contavam com o apoio de uma parcela significativa dos afro-americanos. Essa popularidade era resultado da atuação do partido no combate à violência social e na promoção da igualdade social.

Fim dos Panteras Negras

O Partido dos Panteras Negras chegou ao fim oficialmente quando foi dissolvido, em 1982. Seu fim, no entanto, foi resultado de um longo processo de desgaste causado pelo Federal Bureau of Investigation (FBI), o departamento responsável pela investigação criminal nos Estados Unidos. O envolvimento do FBI fez com que os Panteras Negras fossem incluídos no Programa de Contrainteligência.

Esse programa visava desarticular e enfraquecer movimentos considerados subversivos, principalmente aqueles com uma plataforma progressista. Por meio dele, o FBI infiltrou agentes nos Panteras que os enfraqueceram e desmoralizaram. Além disso, o FBI conseguiu plantar dissidência no interior do partido.

A violência contra os Panteras Negras também aumentou consideravelmente, e dezenas de membros do partido foram mortos todos os anos. Muitos eram presos, e a quantidade de processos que o partido teve de enfrentar na justiça fez com que enfrentasse também graves problemas financeiros.

Por fim, desentendimentos e problemas de liderança fizeram com que o partido fosse enfraquecido definitivamente na década de 1980, levando-o à sua dissolução, em 1982.

(*Embora o nosso breve texto seja elaborado a partir de referências e fontes explicitadas abaixo, alertamos que poderá conter simplificações a fim de adequar ao espaço proposto pelo blog. Att.: Black Blog/Estrela Preta)

Fontes

Panteras Negras. História do Mundo. Disponível em < https://www.historiadomundo.com.br/idade-contemporanea/os-panteras-negras-e-o-movimento-racial-nos-eua.htm >
                                                                                                                  
Partido dos Panteras Negras. Wikipedia. Disponível em <https://pt.wikipedia.org/wiki/Partido_dos_Panteras_Negras >
             
 

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